sábado, 3 de dezembro de 2011

E vamos escrever aonde?

Os romanos, além de escreverem em monumentos, escreviam inicialmente em papiro, entretanto, devido à escassez da matéria-prima para se fazer tal material e também à disputa entre o rei de Pérgamo e Alexandria, surge o pergaminho, pois Alexandria barrara a exportação do papiro. O motivo dessa disputa era quem construiria a maior biblioteca do mundo.
O pergaminho era feito a partir do couro de vaca e boi, e como podia ser dobrado, surgiu o formato de códice  (formato dos nossos livros hoje em dia).


Uma curiosidade sobre esse assunto é que os cristãos escreviam em pergaminho por causa da durabilidade (já que escreviam a palavra de Deus, ela tinha de durar mais), enquanto pagãos escreviam em papiro para se diferenciarem dos cristãos.

Quem Vence é Trajano!

No ano de 98, subia ao poder em Roma um general nascido da Hispania (a atual Espanha). Era Ulpio Trajano. Guerreiro nato, ele queria fortalecer as fronteiras de Roma. Pela última vez na história do império, Roma comportaria uma política de fins imperialistas cujo principal objetivo era o baixo Danúbio. Ali viviam os dácios, onde hoje ficam a Romênia e a Hungria, terras férteis ricas em ouro e prata. Os dácios tinham potencial militar e econômico para rivalizar com Roma. Assim, Trajano seguiu para combatê-los. A conquista se deu em duas guerras entre os anos 101 e 105. Mas é uma campanha militar mal documentada. Trajano nos deixou então outro tipo de relato, inusitado. Uma coluna de pedra que mandou erigir, em 113, diante do fórum de Roma. Nela, as imagens de guerra ficaram gravadas em baixo-relevo e sobem em espiral por todo o monumento, e está escrito em capitais monumentais a seguinte passagem:


SENATVS·POPVLVSQVE·ROMANVS
IMP·CAESARI·DIVI·NERVAE·F·NERVAE
TRAIANO·AVG·GERM·DACICO·PONTIF
MAXIMO·TRIB·POT·XVII·IMP·VI·COS·VI·P·P
AD·DECLARANDVM·QVANTAE·ALTITVDINIS
MONS·ET·LOCVS·TANT<IS·OPER>IBVS·SIT·EGESTVS


Tradução: "O Senado e o Povo Romano (subentende-se dão ou dedicam esta coluna) ao imperador César, filho da divina Nerva, Nerva Traianus Augustus Germanicus Dacicus, Pontifex maximus no seu 17º ano no tribuno, tendo sido aclamado seis vezes Imperador, seis vezes Cônsul, Pater Patriae, para demonstrar a grande altura a que o monte se encontrava e foi removido para tais grandes trabalhos".


São Pedro no topo
Ali ficava uma estátua do imperador Trajano. Mas, em 1587, ela foi trocada. O papa Sisto V mandou colocar no local uma estátua de são Pedro.

As pinturas
Hoje é difícil ver a olho nu as imagens. No passado, não era assim. As figuras originalmente eram coloridas, como outros monumentos em pedra da Roma antiga.

E as histórias?
São contadas de baixo para cima e da esquerda para a direita. Trajano aparece 60 vezes: dirige seus exércitos, anima e premia soldados. O rio Danúbio é retratado por um ancião que franqueia a passagem das tropas para as terras dácias.

A coluna tem
• 30 m de altura
• 3,68 m de diâmetro
• São cerca de 2,5 mil quadros em baixo-relevo
• Os desenhos se sucedem por quase 200 m
• Eles se elevam em espiral, dando 23 voltas na coluna

Por dentro
No interior, há uma escadaria em caracol, com 185 degraus, que leva ao topo do monumento. O autor da coluna foi o arquiteto Apolodoro de Damasco, que chegou a acompanhar Trajano em suas batalhas.

Urna funerária
Na base, há uma urna de ouro. Nesse espaço estão depositados os restos mortais do imperador romano Trajano e de sua mulher, Plotina.





A Coluna de Trajano foi uma das grandes fontes e a mais importante para o estudo da escrita romana antiga.






Quem sou eu, quem sou eu: capitais ou unciais?

As características gerais da escrita romana antiga são bem similares as da escrita grega: maior geometrização e simetria das letras, espaçamentos mais regulares entre elas, leitura da esquerda para a direita e de cima para baixo, uso de linhas base, entre outras. Porém existem 4 tipos básicos de formas de escritas romanas. São elas as capitais monumentais, capitais quadradas, capitais rústicas e unciais/semi-unciais.



  •  Capitais Monumentais - encontradas em monumentos romanos. São o tipo mais rígido (sólido) e geométrico de escrita. Eram esculpidas em forma de cunha para dificultar a quebra das bordas. Com elas surgem as serifas, mas não se sabe se tem a ver com o pincel (para desenhar as letras antes de esculpir) ou com a quebra da pedra.



  • Capitais Quadradas - São praticamente iguais às capitais monumentais, porém menos rígidas devido ao fato de serem escritas em papiro e similares. Às vezes o "l" e o "f" passam da linha base e no momento da escrita a angulação da pena é de 45º.


  • Capitais Rústicas - Também escrita em papiro e similares. São mais condensadas que os outros dois tipos de escrita citados e a angulação da pena no momento da escrita é de quase 90º, fazendo com que traços verticais sejam finos e horizontais, grossos.


  • Unciais / Semi-unciais - As unciais surgiram na Grécia e foram adotadas pelos romanos. A partir desse momento começaram a ser usadas em títulos de livros até serem substituídas pelas minúsculas carolíngias. Já as semi-unciais são "os pais" das letras minúsculas como conhecemos hoje. Diferentemente da unciais, que apresentam 2 hastes como linhas base, as semi-unciais apresentam 4, onde a distância entre as duas do meio formam a altura "x", e a distância entre as duas hastes extremas tem altura de 1 úncia.














Que Venha o Alfabeto!

Os romanos antigos, quando ainda não formavam um império, herdaram o alfabeto da civilização etrusca, que baseava sua escrita no alfabeto grego, adaptando-o a sua linguagem.
Os etruscos instalaram-se no centro da Itália por volta do ano 1000 a.C. Por volta de 700 a.C., eles começaram a escrever, adaptando à sua língua o alfabeto grego de 21 caracteres que, com o tempo, chegou a ter 26 letras. O documento mais antigo que deixaram é o Cippus Perusianus, do século V a.C.


Após receber o alfabeto desse povo, Roma retirou 5 caracteres, fazendo com que o alfabeto voltasse a ter 21. Quando conquista a Grécia, leva alguns pergaminhos para estudar e acaba anexando algumas palavras gregas ao seu vocabulário tendo de criar mais três letras. Com o tempo, criou-se a letra "g" para diferenciar  o som do "k" (que passou a ser representado pela letra "c") do próprio som do "g" (o "c" também era usado para representar esse som). Por fim, devido à essa herança grega, também criou-se o "y" e o "z".